Em resumo, a história se inicia com os irmãos Johnny e Bárbara indo visitar o túmulo de seu pai em uma zona rural erma, chegando ao local eles são atacados por um estranho esfarrapado e ensandecido. Johnny morre na tentativa de proteger Bárbara e ela foge em desespero, indo se abrigar em uma casa de fazenda onde encontra Ben, um homem que deixa evidências claras de que existe uma turba insana e perigosa de pessoas causando violência e tumulto nas cidades e se acercando da propriedade rural onde os dois se entocam. A turba é obviamente composta por zumbis, cadáveres reanimados por uma força epidêmica cuja origem é apenas insinuada ao longo do livro. Sem muitas alternativas, Ben e Bárbara são forçados a lutar pela sobrevivência, recebendo uma confusa e nem sempre bem vinda ajuda de outros sobreviventes que se refugiam na casa de fazenda.
O primeiro ponto alto a ser citado sobre a obra de Russo é que a trama fica ainda mais instigante e clara na literatura. As nuances de crítica social, as características dos personagens e a tensão instaurada no ambiente desesperador causam no leitor uma sensação de inquietude muito grande. O autor soube trabalhar a versão literária de A Noite dos Mortos-Vivos de maneira ímpar, o terror, o horror e a repugnância são características fortes que, aliadas a ambientação e a tensão entre os personagens, causam pavor e ansiedade legítimos. Portanto, a versão literária de A Noite dos Mortos-Vivos não deve ser relegada como um simples produto caça-níquel, pois ela acrescenta uma experiência totalmente nova a essa verdadeira história clássica.
A edição Brasileira do livro, que foi feita pela Darkside em trabalho primoroso, traz, ainda, uma pérola muito grata. Uma segunda história de zumbis pouco conhecida, A Volta dos Mortos-Vivos, também de John Russo. Inicialmente, essa nova trama era um roteiro que daria continuidade ao filme de 1968, mas o diretor Romero preferiu tomar caminhos diferentes e filmar Dawn of The Dead (1978).
A trama de A Volta dos Mortos-Vivos, que chega ao público apenas na versão literária, se passa 10 anos após os eventos ocorridos no primeiro surto zumbi. Ao contrário do que é normal em histórias do gênero, a sociedade não sucumbiu e passou a lembrar a primeira hecatombe como um desastre antigo. Em meio a um clima soturno, seitas religiosas defendem a trepanação dos crânios de todo e qualquer cadáver, evitando assim uma nova hecatombe de Mortos-Vivos, contudo, as autoridades são resistentes a prática, e as precauções não bastam e a epidemia se espalha novo instaurando caos, violência e confusão. Em meio a balburdia e sanguinolência, as autoridades tentam recuperar o controle das áreas atacadas enquanto os sobreviventes lutam para manter suas vidas longe das mandíbulas dos zumbis.
Essa sinopse não fica a altura do que você encontra na história, é que ela é dinâmica, funda e concisa. A mínima menção a personagens e pormenores da trama pode resultar em umspoiler desagradável.
Pessoalmente, vejo a segunda história do livro como sendo melhor do que a primeira, o principal motivo para isso é que John Russo ampliou e melhorou tudo aquilo que já havia sido apresentado em A Noite dos Mortos-Vivos. Além disso, A Volta dos Mortos-Vivos é um livro muito mais tenso e sombrio do que estamos acostumados. Mesmo antes de a hecatombe de zumbis acontecer, alguns eventos “mais cotidianos” narrados pelo autor tem uma carga notável de terror.
Os méritos do livro são muitos, mas, por fim, gostaria de chamar a atenção para o grau de empatia que os personagens despertam. Ele é digno de muitos autores clássicos de histórias cerebrais e psicológicas. Você não vai encontrar nenhum ídolo entre eles, ninguém que você queira fazer um cosplay, mas a formulação literária das tramas conduz o leitor para sentir-se no lugar de cada uma das pessoas presentes nas duas histórias, isso só aumenta o terror e o suspense que chegam a níveis suficientemente fortes para causar pesadelos e marcar a imaginação.
Sobre a edição disponível aqui no Brasil, a Darkside Books fez um trabalho incrível, lançou o livro em dois formatos, em brochura e em capa dura – edição especial, ambas com resistentes páginas de papel pólen (aquele que reflete menos luz). O livro é marcado por excelentes imagens do filme de 1968 e a capa tem design e diagramação em verde e preto, vai ficar muito bem na sua estante.
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